De olhos bem abertos
Criar uma dobrinha
na pálpebra é a moda entre os
descendentesde orientais no Brasil
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Rosana Zakabi
A moda entre os descendentes de
imigrantes orientais é encomendar ao cirurgião plástico uma dobrinha de pele
extra nas pálpebras. Chamam a isso de "ocidentalizar" os olhos, pois a pálpebra
lisa é uma característica das pessoas originárias do Extremo Oriente. Não é o
único modismo entre os filhos e netos de japoneses, coreanos e chineses.
Mocinhas delicadas apelam para próteses de silicone ansiosas por ter quadris
roliços como os da dançarina Scheila Carvalho ou seios voluptuosos como os da
atriz Danielle Winits. Também são comuns, para ambos os sexos, a plástica para
afinar o nariz e o uso de prótese na batata das pernas para diminuir o vão
existente entre elas, outra característica do corpo oriental.
A ocidentalização estética tem no
Japão e na Coréia do Sul a popularidade da lipoaspiração no Brasil. Por aqui
também está causando furor. Estima-se que 14.000 pessoas, sobretudo em São Paulo
e no Paraná, submetam-se a cirurgias de ocidentalização a cada ano, o dobro do
que acontecia no início dos anos 90. Metade dessas intervenções médicas é para
criar a dobrinha sobre os olhos. A operação é relativamente simples e rápida.
Consiste em retirar parte da gordura existente nas pálpebras superiores e, na
maioria das vezes, também de uma tirinha fina de tecido muscular para eliminar o
aspecto inchado, típico dos rostos orientais. Depois, é feita uma "dobrinha" em
cima dos olhos.
Como muitas adolescentes
descendentes de japoneses, a paulistana Karen Kataguiri, de 17 anos, usava um
tipo de cola vendida em casas especializadas para "grudar" as pálpebras
superiores e formar a dobrinha. Ela colocava a substância pela manhã e retirava
à noite, antes de dormir. Três semanas atrás, ganhou de presente dos pais a
sonhada cirurgia plástica. "Minhas primas já haviam feito, e ficou legal, por
isso meus pais se convenceram de que poderia ser um bom negócio", diz ela.
"Geralmente as orientais têm mamas e
bumbum menores que a média brasileira". "Por isso, elas nos
procuram para tentar aproximar-se desse padrão." Boa parte dos pacientes é de
dekasseguis, descendentes de imigrantes japoneses que foram trabalhar como
operários no Japão e lá fizeram um pé-de-meia.
O processo de ocidentalização não é
barato. A operação para criar a dobrinha nos olhos custa, em média, 2.500 reais.
Outras cirurgias chegam a 7.000 reais. O paulistano Johnny Miyagi, de 36 anos,
diretor de uma retransmissora de TV no Japão, criou sua pálpebra ocidental um
mês atrás. "Apareço na televisão com freqüência. Por isso, queria realçar meu
olhar", conta ele. "Ficou muito melhor do que antes." Modificar as feições pode
parecer uma forma de renegar as origens, mas nem todos vêem a questão por esse
ângulo. "O ser humano tem necessidade de ser aceito onde vive", observa a
cirurgiã plástica Edith Kawano Horibe, professora da Universidade Federal de São
Paulo, que faz dezenas de ocidentalizações de olhos por ano. "Ter um corpo
dentro dos padrões sociais faz com que ele se sinta mais integrado." Em outras
palavras, enquanto ser bonito no Brasil for sinônimo de ter bumbum e mamas
abundantes, as clínicas de cirurgia plástica continuarão lotadas de descendentes
de orientais.
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